segunda-feira, 22 de junho de 2009

Único consolo

Confesso: não sei olhar a hora. Tenho dificuldade em administrar os relógios, principalmente os que se utilizam de algarismos romanos. Relógio, pra mim, tem que ser digital. Não sabendo olhar as horas, perco-as. E me perco nelas, também. Perco tempo, perco no tempo. E ele passa, passa, passa... e eu fico. E eu vou. E eu estaciono a minha máquina num lugar qualquer e não faço ideia de que horas sejam. Não me incomodo, mas deveria. Junto com o tempo, vão as pessoas, cada uma no seu tempo - só que elas conhecem seus tempos, e eu não sei nem mesmo o meu. E fico pra trás. Vejo todo mundo passando por mim, mas não os acompanho. Cada um tem seu tempo, sua hora, seu ritmo. Ritmo? Esse eu não tenho nenhum. Nem bem queria ter. Fico aqui, parada, na minha hora (embora sem saber qual seja ela), na minha falta de ritmo. Abro um livro, qualquer um. Algum de poesia, pode ser. Ou um diário. E então, o que é o tempo? Ele não existe mais pra mim. Posso estar aqui e agora, bem como em Portugal de 1572, enquanto caem algumas das suas lágrimas para o mar salgado. Mas isso não importa; o que é 1572? Um número, e só. O tempo, esse vai além. E fica. Fica perdido, até que alguém o encontre, não nos ponteiros ou nos (malditos!) algarismos romanos de um relógio, mas nas páginas de um livro empoeirado, esquecido e perdido no tempo.

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Obs: o título deste texto é uma referência ao trecho: "Existe apenas isto como consolo: uma hora, em um momento ou outro, quando, apesar dos pesares todos, a vida parece explodir e nos dar tudo o que havíamos imaginado, ainda que qualquer uma, exceto as crianças (e talvez até elas), saiba que a essa seguir-se-ão inevitavelmente muitas outras horas, bem mais penosas e difíceis." (CUNNINGHAM, Michael. As Horas. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.)

Obs [2]: Portugal, 1572. Isso te lembra alguma coisa? =)

3 comentários:

Laura Assis disse...

principalmente os que se utilizam de algarismos romanos. Relógio, pra mim, tem que ser digital [2]

E a falta de ritmo não seria ela também um ritmo? Todo mundo diz que não, acho eu que sim.

Gostei do texto. Divagação atemporal, apesar dele, o tempo, ser o persgonagem principal.

Obs1: Meu TOC adorou a referência toda bonitinha. lol

Obs2: Portugal, 1572. ACHO que é o ano de "Os Lusíadas". Tia Luiza que ensinou. :)

Eduarda. disse...

Adoreei também. *-* E eu concordo com a Laura, a falta de ritmo também é um ritmo. Salvo se essa falta de ritmo também for desritmada, entendeu? o.o' ouashduhasdouhaousdh

Pamella Oliveira disse...

E a falta de ritmo não seria ela também um ritmo? Todo mundo diz que não, acho eu que sim. [2]

Eu sei da sua dificuldade em ver as horas, enfim. Pior que algarismo romanos são os que não têm algarismo NENHUM!

Tempo é sempre uma coisa que falta tanto pra todo mundo que eu já acho que não existe. É, tempo é uma invenção hollywoodiana.

P.s: Eu não fumei.
Beijo, nêga :*