domingo, 12 de setembro de 2010

Particular

Os arranhões nas paredes do mundo todo
ainda são as marcas do copo
que errou sua cabeça
e estilhaçou em outro lugar.
Os milhões de pedaços de papel
que voam pelas ruas do Rio e de Londres
são pedaços do bilhete de viagem
que eu não quis guardar.
As pichações que ocupam todos os muros
fazem parte dos desenhos que fiz no seu corpo
com a ponta dos dedos
dentro do mesmo apartamento
que vejo de relance
todos
os
dias

Meus pais tremem ao ouvir seu nome
porque sabem que não é só seu sangue
que ainda está nas minhas mãos

Seus discos favoritos empoeiraram na minha estante
junto com seus livros
que não li
nem queimei

e ainda assim
não deixei de correr pela rua
onde fui parar por engano
não rasguei as cartas
não joguei pra perder
não jogaria
nem que pudesse

O único lugar em que alguém pode escolher entre
viver
e
mentir
são as músicas que arranham meus ouvidos
exatamente como os cacos do copo
que atirei em você para me atingir.

3 comentários:

Otávio Campos disse...

Sem dúvida, é a que mais gosto.

Laura Assis disse...

Pois é. Desbancou o "Negação". Meu novo preferido. Essa estrofe dos pais é foda.

Rogério. disse...

Ainda prefiro Pretérito Perfeito(é obra prima)...

""que não li
nem queimei""

É isso que mais gosto no que escreve...o desejo parece contraposto a idéia e traz qual a palavra adequada, traz surpresa..(ainda não é a adequada mas chega perto) rsrs

Beijos continue...