domingo, 14 de novembro de 2010

Uma (falta de) arte

Confesso: não me diplomei na arte da perda:
ao contrário, dia após dia, me entreguei
à contemplação inútil de tudo que,
passando por minhas mãos, larguei com pesar.

Lamento ainda cada casa que deixei,
os livros que terminei e não mais li,
cada música que, findo o repeat, não lembro
nem mesmo o nome, cantor ou compositor.

Perco mais ainda meu tempo lamentando
o corpo que deixei escapar de sob meus
quadris exaustos de tão frouxamente prender

e o timbre de voz que nunca mais ouvi
em baixo tom, um sussurro em outra língua
que um dia chegou mesmo a me compor – não mais.

2 comentários:

Darlan disse...

Muito bonito. Um semi-lamento com a cara do domingo cinza que faz aqui.

Beijo!

Unknown disse...

Que lindo! Muito triste, sim, mas muito belo.